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Era uma vez
A Ana lê muito devagar,
só uma letra de cada vez.
Enquanto ela está só a letrar
a Sara letra duas ou três.
A Ana tem tempo de lá chegar.
Os pés, os tês, os bês, os mês,
não fogem se ela se demorar.
A Sara quer acabar e começar outra vez.
A Ana lê e põe-se a pensar
nos quês, nos porquês, nos para quês,
e volta atrás para confirmar
porque, afinal de contas, talvez.
A Sara prefere entrar
nas palavras, nos desenhos, e ficar.
Existir no meio das histórias, em vez
de ver, viver; em vez
de pensar, de pausar, de perspicar,
ser ela a ser o que o herói fez.
Sai dos livros sem sair do lugar,
e corre o mundo de lés a lés.
A Sara lê assim, a Ana mais devagar,
e depois ficam as duas a conversar.
A Ana conta: «Era uma vez…»
E a Sara: «Era eu uma vez…»
O pássaro da cabeça,Ed. A Regra do Jogo
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